Outro dia, estava conversando com uma moça que está recém-chegada na Alemanha e ela me disse toda entusiasmada: “Agora, preciso me adaptar!” Essa frase reverberou em mim por semanas. Afinal, eu estou em adaptação há dois anos aqui! Mas, será que são só dois anos mesmo?

Então, decidi fazer uma retrospectiva e fui buscar lembranças de momentos de adaptação. Com isso, caiu a minha ficha: que adaptação é essa que pensamos existir somente quando mudamos de país? Vem comigo e você vai entender meu raciocínio.

A adaptação começa cedo e nunca termina

Se estamos no Brasil, temos que nos adaptar a situações diversas. Pode ser a um chefe novo, um novo relacionamento, à nova condição de sermos pais, ao término de um casamento, à mudança de emprego ou até mesmo uma mudança de residência, por exemplo. Quando ouvimos a afirmativa: “você precisa se adaptar!”, como isso lhe soa? De início, eu imagino que nos sentimos pressionados. De fato, nem sempre temos uma sensação positiva com essa ideia. 

Com o tempo, temos uma mudança de país. Mas uma mudança por escolha. Outra cultura, outros costumes, outra língua, pessoas completamente estranhas a nós. Realmente, outra forma de estar e enxergar o mundo. Então, ouvimos a mesma afirmativa: “Você precisa se adaptar!”. Respondemos sem pensar: “É claro!! Estou aqui para isso. Quero me sentir parte, integrada e vou fazer o possível”. 

Em outro cenário, estamos em um país em guerra e somos obrigados a nos refugiar em outras terras. Eu não escolhi sair do meu país, mas, preciso salvar a minha vida. Ouvimos: “Você precisa se adaptar!”. Como será que essas pessoas escutam isso? Eu não vou afirmar porque meu contato com refugiados aqui foi pequeno e tivemos a dificuldade de comunicação verbal clara. Mas, a sensação que eu tive foi que eles não querem se adaptar pelo simples fato de que a vida aqui não faz sentido. Como recriminar essas pessoas? Volte para o início do texto e pense nas situações do dia a dia, as quais não temos a menor vontade de nos adaptar.

Resiliência

A resiliência é a capacidade de se adaptar sem perder suas principais características. É uma qualidade necessária. No entanto, alguns têm maior facilidade, outros nem tanto, mas se adaptar é uma possibilidade. Onde está o limiar entre o adaptar-se e o corromper-se? Essa foi a questão que me ficou do entusiasmo da moça. Eu também vim superaberta e entusiasmada e de repente, como num passe de mágica, fui me dando conta de que eu queria e desejava me adaptar um pouco. Esse “um pouco” faz toda a diferença quando temos consciência do nosso estado de estrangeiro no mundo. Somos todos estrangeiros no nosso mundo. A adaptação precisa acontecer na forma social, nas regras locais, seja no trabalho ou em outro país, mas, no plano individual eu não posso abandonar minhas referências. Adaptar-se pode ser um risco de perder de si mesmo. 

Seja em um ambiente de trabalho, em um relacionamento, em um grupo ou em outro país, a adaptação precisa ser consciente. Até onde me adapto? Até onde vou assimilar a cultura e as condições do outro? E até onde posso me colocar como Camila, como Ana, como Beatriz para que o meu mundo seja uma fonte de descoberta nas relações? Todos nós somos fontes de ensinamentos e aprendizados, todos nós estamos aptos a ensinar e a aprender. A adaptação é necessária, tem seus limites pessoais e é infindável já que é uma condição da vida. 

E como diz Clarice Lispector: “Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.”


Autora:
Camila Maciel Polonio

Published On: maio 7th, 2020 / Categories: Cotidiano, Informação / Tags: , /

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About the Author: Fernanda Preis

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